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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

ENDOMETRIOSE : O QUE PODER SER ESSA DOENÇA ?

UOL Ciência e Saúde: O que é
endometriose?
Eduardo Schor: Quando a mulher
menstrua, é o endométrio (mucosa que
reveste o interior da cavidade uterina)
que descama. Em 80% das mulheres,
uma parte desse endométrio volta e cai
dentro da pelve. É o que chamamos de
menstruação retrógrada, que não é
necessariamente sinal de doença. Nas
mulheres com endometriose, porém,
essas células formam o que chamamos
de implantes. Toda vez que a mulher
menstrua, aquele pedacinho de
endométrio no lugar errado "menstrua"
também, e a doença progride. Esses
implantes podem ir para ovário,
intestino, bexiga, e até para os
pulmões. Recentemente recebi o vídeo
de uma menina de 14 anos que tem
foco de endometriose no olho: quando
ela menstrua, ela chora sangue. Mas
isso é raríssimo.
UOL Ciência e Saúde: Qual o perfil
de mulher com mais chance de ter
a doença?
Schor: Normalmente a doença é
diagnosticada em mulheres entre 25 e
35 anos. No entretanto, sabemos que a
endometriose começa mais cedo. Hoje
acreditamos que começa na
adolescência. Jovens que têm parentes
com a doença na família também
devem ficar atentas. As mulheres que
começam a menstruar mais cedo
também têm mais chance de ter
endometriose.
UOL Ciência e Saúde: Quais os
sintomas da endometriose?
Schor: O sintoma principal é a cólica,
mas também pode haver dor durante a
as relações sexuais e infertilidade.
Metade das mulheres que busca
clínicas de Reprodução Assistida hoje
têm como causa da dificuldade para
engravidar a endometriose. Já nos
estágios mais avançados, também pode
haver outros sintomas, dependendo do
local onde a doença se instala. Se
estiver no intestino, por exemplo, pode
aparecer sangue nas fezes.
UOL Ciência e Saúde: Por que é
tão difícil diagnosticar a doença?
Schor: Em geral, a mulher acha que é
normal sentir cólica e a doença passa
despercebida. Ela toma anti-
inflamatório, vai trabalhar, mas passa
mal o dia todo. O problema é que a
paciente nem sempre volta ao médico
para reclamar que a dor continua. Ela
vai tentando outros anti-inflamatórios,
troca de pílula, de médico, e a doença
continua evoluindo, até causar um
comprometimento maior. Um
levantamento mostrou que, do início
dos sintomas até o diagnóstico da
doença, o tempo médio é de oito anos.
Muitas passam por quatro, cinco
ginecologistas até descobrir o
problema, o que é um absurdo.
UOL Ciência e Saúde: Toda mulher
que tem cólica menstrual pode ter
endometriose?
Schor: Não. A cólica da mulher que
tem endometriose é progressiva, ou
seja, com o passar do tempo ela vai
piorando. As medicações usualmente
utilizadas deixam de surtir efeito e, em
alguns anos, a mulher já não consegue
mais realizar suas atividades diárias. A
cólica "normal" é aquela que passa
com um simples analgésico ou anti-
inflamatório.
UOL Ciência e Saúde: O ultrassom
pélvico, que se faz nos exames de
rotina, não mostra essa presença
anormal de endométrio?
Schor: Não. Nos estágios iniciais,
quando os implantes são pequenos, o
exame não detecta nada. Mesmo o
ultrassom transvaginal só mostra a
doença quando o estágio já está
avançado. Existe um marcador
sanguíneo, o CA-125, descoberto para
diagnóstico de tumor de ovário, que
está aumentado em 40 a 50% das
mulheres com endometriose. Mas,
como ele não aparece em todos os
casos, especialmente nos iniciais, não
deve ser usado como exame
preventivo. Em resumo, o diagnóstico
da doença é clínico. Ou seja, o
diagnóstico da doença é clínico.
UOL Ciência e Saúde: O que
origina a endometriose?
Schor: Há duas linhas de pesquisa.
Uma defende que a doença está no
útero, ou seja, a mulher com
endometriose teria uma série de
alterações e, por isso, as células que
caem na pelve causam problema. Outra
parcela defende que a doença está
ligada a questões imunológicas – o
organismo não conseguiria combater
essas células que voltam pela
menstruação retrógrada. E há a
propensão genética, também. Quem
tem caso de endometriose na família
tem sete vezes mais chances de ter a
doença. Mas é difícil que as mulheres,
hoje, tenham essa informação, porque
suas mães e avós engravidavam mais
cedo e, assim, não desenvolviam a
doença.
UOL Ciência e Saúde: A gravidez
protege a mulher da
endometriose?
Schor: Quanto mais a mulher
menstrua, mais ela fica exposta à
doença. A gravidez, no início da
doença, também pode funcionar como
tratamento, por causa do hormônio
progesterona. É por isso que existe
aquele mito de que cólica passa depois
que a mulher engravida – isso
acontecia antigamente, quando as
mulheres se casavam e tinham filhos
cedo. Hoje, com a mudança dos
hábitos de vida da mulher moderna, a
incidência da doença vem
aumentando.
UOL Ciência e Saúde: Como é o
tratamento?
Schor: Se a endometriose estiver no
começo, o tratamento é suspender a
menstruação, com uso contínuo da
pílula, DIU com hormônios ou injeções.
Mas isso só resolve quando a doença é
diagnosticada cedo. Nos estágios mais
avançados, o tratamento pode ser a
menopausa induzida por
medicamentos e a cirurgia. Tira-se um
pedaço do intestino, os ovários ou a
trompa, dependendo de onde estiver o
foco. Há mulheres que, mesmo sem
filhos, pedem para tirar tudo, tamanha
é a dor que a doença provoca. Em
alguns casos, pode-se até indicar
fisioterapia porque a dor provoca
alterações posturais que continuam
mesmo depois do tratamento. Por isso,
nossa briga é chamar a atenção para o
diagnóstico precoce: esclarecer as
jovens, e também os médicos, que ter
cólica forte não é normal.
UOL Ciência e Saúde: A doença
está mais frequente, ou é o
diagnóstico que melhorou?
Schor: Temos diagnosticado cada vez
mais a doença, e presenciado casos
cada vez mais avançados. Isso ocorre
porque a mulher está adiando a
gravidez, em função do papel que
assumiu no mercado de trabalho. Mas
também há estudos que indicam a
possibilidade de que haja algum fator
ambiental envolvido. Uma das
substâncias que pode ter relação com o
aumento da endometriose é a dioxina,
um poluente usado na produção de
plástico e outros derivados de petróleo,
mas isso ainda está sendo investigado.
UOL Ciência e Saúde: Se a mulher
pretende continuar adiando a
gravidez, então a saída é não
menstruar?
Schor: Isso é controverso. Nos casos
iniciais de endometriose, a pílula e
outros métodos para suspender a
menstruação são o tratamento
indicado. Já nas mulheres saudáveis, é
preciso analisar o custo-benefício,
porque os hormônios têm seus efeitos
colaterais. A proteção ideal seria
engravidar mais cedo.

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